Confusão

Quando passo na rua olham me de lado Lá vai o maluco a falar sozinho Aposto que não tem família nem amigos Chega a casa embebeda-se com vinho Será que já sentiu amor Senti em demasia Não sei, de tanto bater Acho que o meu coração parou Levou-me a cabeça, tudo o resto não quis Deixou Por isso nunca tive se quer a audácia De mencionar amor num poema Fala-se em amor e parece algo proibido Só porque não se consegue explicar Não quer dizer que não seja percebido Se já senti amor É tudo o que sinto Se chego a casa e embebedo-me com vinho Normalmente sim, com tinto Mas nós não somos o que bebemos Pelo contrário Eu sou aquele resto de cerveja Que alguém deixou morrer Toda a gente sabe que vai ficar ali Já não presta para beber Vai para o lixo, sabe mal Mas já fui e gostava de ser Uma cerveja como as outras Uma cerveja normal Então o que me distingue dessas Porque tive eu de morrer Não sei Só sei que agora escrevo poemas Para pessoas que não sabem ler Pessoas como eu Pessoas que só sabem sentir Pessoas que ardem só por dentro Mas nem por isso deixam de existir Não foi há muito tempo que percebi Que nós somos mais do que carne e osso Somos também confusão Mas a confusão não tem de ser má Aliás, é bonita de se ver Porque a confusão é inesperada Aparece sem nada dizer E sem percebermos isso Nós queremo-la mais, sem querer Porque nós não somos os poetas Somos os poemas Agora Agora vou tentar abrir a minha cabeça Para tirar as tuas memórias Só espero que o cérebro não caia Ainda quero as minhas histórias