Pescadores

Quis viver num poema de Pessoa Fiz uma canoa Com lenha dos pais Sentei-me na prôa, Naveguei à toa Ancorada pela ideia: Não fico no cais O objectivo era ser oceano Seguir sempre o plabo Como um desafio Eu tenho o novelo Não faço novelas Descobri a ponta Ou estou por um fio? (Estás por um fio) Entrei no rio Senti a corrente Não tive medo Eu estava ocorrente Corria-me o sangue Eu estava contente Por ter a certeza: O centro é movimento Entrei mar a dentro A viagem não pára! Corpo abanava Com as ondas na cara A vida é uma ferida Que a espera não sara Vale mais ser vivida Que a inércia sai cara (sai cara) Tanta água, tanta sede Hoje encosto-te à parede Não dá para pescar sem rede Somos telespectadores Deram-nos peixes e barcos Tivemos remos e fados Somos trancados em quartos Para não ver pescadores