Procuração

[Intro] Papel timbrado, assinatura reconhecida Meu nome por extenso, uma vida traduzida Em cláusulas e termos que poucos entendem Mas todos se rendem [Verso 1] Cresci vendo meu pai entre homens de terno Manipulando palavras, criando um inferno De parágrafos, vírgulas, pontos finais Onde o poder se esconde em documentos legais Carimbo na mesa, caneta Mont Blanc O jogo do poder não é rock, não é funk É o som do papel deslizando na mesa A burocracia transformada em defesa [Refrão] Procuração, a arte da delegação Palavras que transferem o poder na sua mão Procuração, linguagem de proteção Quem tem o carimbo controla a situação [Verso 2] Cada folha um escudo, cada termo uma grade Na selva de concreto, essa é a verdade Meu pai me ensinou que o poder verdadeiro Não tá na violência, tá no jogo financeiro Escritório espelhado, décimo andar Onde os donos do jogo vêm negociar Café preto servido em xícara fina Enquanto o sistema se perpetua e domina [Bridge] Entre carimbos e protocolos Assinaturas como símbolos Do poder institucional Que faz do legal, normal [Verso 3] Advocacia é poesia pros iniciados Cada processo um verso bem elaborado Enquanto o povo comum não entende o latim Os reis do sistema fazem a lei assim Meu pai sorria vendo o plano funcionar Enquanto eu aprendia a arte de delegar Agora sou eu quem assina os papéis Fazendo das palavras minhas próprias leis [Outro] O poder não precisa de arma ou prisão Só precisa de uma boa procuração E quem entende o sistema, entende o recado No jogo do poder, tudo é delegado